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Mostrando postagens de 2012

Até sempre

Cumpra-se, então, a tradição. As minhas escolhas do ano que acaba: O melhor de 2012 A designação do Museu da Comunidade Concelhia da Batalha como melhor museu português de 2012. Não é preciso gastar muitas palavras para justificar a minha escolha: um projecto bem elaborado e bem executado, que presta tributo à visão e capacidade de realização do Município. Parabéns à Batalha! O pior de 2012 O processo de ‘reestruturação’ do mapa autárquico ao nível das Freguesias. A começar pelos pressupostos vertidos na legislação e a acabar na recusa, em muitos casos, em participar no processo. Registei aqui, mais que uma vez, a minha discordância, mas também aqui escrevi que seria mais útil participar do que ficar de fora simplesmente a criticar. Os resultados já estão à vista e não auguram nada de bom: ninguém ficará bem na fotografia. Este texto encerra esta coluna. É entendimento meu e da Direcção do ‘Região de Leiria’ ser tempo de colocar um ponto final nesta forma de colaboração. Dois an

Sobre a sensatez

Quando, há cerca de 15 dias, Isabel Jonet fez algumas afirmações mais ou menos contundentes numa estação televisiva, logo a indignação ululante que pretende dominar a nossa cena pública se ergueu nas ‘redes sociais’, com conveniente propagação nos meios do costume, contra aquela ‘saudosista do estado novo’. Que isto e mais aquilo, que a ‘caridadezinha’ para aqui e os ‘pobrezinhos’ para ali, que Isabel Jonet insultara os ‘portugueses’, que ‘jamais’ voltariam a contribuir para os Bancos Alimentares (será que contribuíram alguma vez?). Lançaram-se até umas quantas ‘petições públicas’ contra a senhora (que não conheço para além das suas aparições televisivas), a ‘exigir’ a sua demissão do Banco Alimentar (a propósito: ninguém se ocupa da contabilidade dessas ‘petições’? porquê?) Este fim-de-semana, se necessário fosse, a normalidade foi ‘reposta’. Os portugueses (sim! os de carne e osso) levantaram-se e entregaram aos Bancos Alimentares qualquer coisa como três mil toneladas de bens alim

A José Travaços Santos

Perdi a conta aos anos que passaram desde que conheci José Travaços Santos. Provavelmente ‘conheci-o’ nos jornais locais, ainda na idade do chumbo, quando Travaços Santos colaborava com os títulos então existentes: o ‘Região de Leiria’, o ‘Mensageiro’ e ‘A Voz do Domingo’. Pessoalmente, creio, conheci-o quando comecei a ‘gatinhar’ aqui mesmo no ‘Região de Leiria’. E se não me recordo de quantos anos passaram, lembro-me perfeitamente do entusiasmo e dedicação que José Travaços Santos colocava em tudo quanto se envolvia. E tanto em que ele se envolvia… E tanto que José Travaços Santos sabe da nossa História, das nossas tradições, dos nossos costumes, dos valores de um Povo que ele conhece como poucos… E tanto que se dedicou a divulgar o que sabe. Outros, mais do que eu, saberão dar testemunho do que foi a vida associativa e o envolvimento cívico de José Travaços Santos. Eu apenas posso dar testemunho da sua simpatia e permanente disponibilidade para partilhar os seus vastos conhecime

A nossa vez

"Precisamos de austeridade para convencer o mundo de que vale a pena investir na Europa" - Angela Merkl Há 67 anos a Europa estava quase destruída física, moral e economicamente. Na maioria dos países reinavam o caos, a miséria, o desespero e a fome. Foi desse cenário que se ergueu a realidade que hoje conhecemos. Uma Europa que, genericamente, alimentou os seus, se reconstruiu, cresceu económica e socialmente. Foi um tempo de índices de crescimento acima dos cinco por cento, gerando rendimentos que possibilitaram a generalização do ‘estado social’. E foi assim até ao início dos anos 70: economia com vento favorável, população em crescimento, paz entre os povos, todas as condições para o ‘estado de bem-estar’. Mas (há sempre um mas…), acomodámo-nos. O ritmo de crescimento abrandou (até quase à estagnação), a natalidade diminuiu (e portanto a população envelheceu). Citando o Grilo, de Eça de Queiroz, a propósito de Jacinto, passámos a sofrer de fartura. Tudo estaria (mai

O som do silêncio

Numa das suas primeiras aparições públicas, a nova Procuradora Geral da República, Joana Marques Vidal, ignorou as dezenas de microfones estendidos na sua direcção e remeteu para as suas palavras escritas pouco antes. Joana Marques Vidal fez toda a diferença relativamente à generalidade das ‘figuras públicas’, que não resistem a um microfone e desatam a falar, a falar, sem nada dizer (ou, demasiadas vezes, dizendo barbaridades). Leitor assíduo de Eça de Queiroz, nessas ocasiões de verborreia lembro as suas palavras na ‘Correspondência de Fradique Mendes’ (1º edição, Porto 1900): “Nas nossas democracias a ânsia da maioria dos mortais é alcançar em sete linhas o louvor do jornal. Para se conquistarem essas sete linhas benditas, os homens praticam todas as acções – mesmo as boas” . E lamento que tantas ‘figuras públicas’ as desconheçam ou ignorem. Se em tempos ditos normais, tal facilidade de afirmação e opinião é já chocante, em momentos difíceis e extraordinários como os que vivemos

Sobre a representatividade

Os partidos com menor representação parlamentar contestam a recente proposta do líder do PS que visa a diminuição do número de deputados por, supostamente, colocar em causa a ‘representatividade’ da Assembleia da República. Os habitantes das regiões menos povoadas de Portugal queixar-se-ão, provavelmente, da sua escassa representatividade no Parlamento (em Portalegre são necessários 53222 eleitores por cada deputado, enquanto em Leiria cada deputado equivale a 42501,4 eleitores). Os cidadãos que não se revêem nos partidos que concorreram às eleições queixar-se-ão, por seu lado, de não se sentirem representados. O sistema de eleição parlamentar que temos foi pensado, há quase 40 anos, para garantir a representação dos partidos políticos, pilares essenciais à construção do regime democrático. Entretanto, muita coisa mudou. Mudou a forma como os cidadãos vêem os ‘políticos’. Mudou a forma como os cidadãos vêem, sentem e praticam a Democracia. Mudou a forma como muitos de nós querem

A Democracia, hoje

Uma recente sondagem diz-nos que 87 por cento dos portugueses estão desiludidos com a Democracia. Ocupados com a ‘espuma dos dias’ e com preocupações bem reais, temo que não se preste a atenção devida a este indicador. O que é mais um sintoma da doença. Por estes dias, andamos demasiado ocupados a procurar culpados pela situação, a apontar os erros dos outros, a criticar os cortes na nossa vida… Dir-me-ão que a situação está tão difícil que não sobra tempo para outras preocupações que não sejam as do dia-a-dia. Será verdade, ou será parte significativa da verdade. Percebo que assim seja, percebo que o cidadão comum ande amargurado, preocupado, com receio do que lhe trará, de pior, o dia de amanhã. Já não percebo que cidadãos com especiais responsabilidades mantenham o mesmo rumo, o mesmo discurso, face ao que vamos vivendo há tantos anos. Perante uma situação de emergência que devia ser reconhecida por todos, não percebo a manutenção de um discurso político ‘clubístico’ de separaç

A vez do Governo

A comunicação do primeiro-ministro na passada sexta-feira provocou ondas de choque que, no momento em que escrevo, são imprevisíveis nos seus efeitos. Embora as medidas anunciadas careçam de mais completa explicação quanto aos efeitos e abrangência, é evidente que implicam mais sacrifícios para a generalidade das famílias. Não discuto a necessidade nem a inevitabilidade, porque nada sei de economia ou de finanças públicas. Não discuto aliás nada: para o caso, constato a realidade. Admitindo a inevitabilidade, impõe-se que o Governo faça mais, muito mais, da sua parte. Perante os sacrifícios impostos à maioria da população, é obrigação do Governo mostrar que sabe poupar. Exige-se que o próximo Orçamento do Estado (e a prática diária do Governo) corte a sério na despesa (para além das retribuições do funcionalismo público). Exige-se a concretização de muitas coisas anunciadas desde o programa do Governo: fim da duplicação de organismos e serviços, racionalização de gastos, corte nas

Sobre a televisão e o serviço público

Vai grande a alto o alarido em torno da privatização/concessão da RTP. Vai grande, alto e, em minha opinião, fora de tempo. Tudo começou porque um senhor muito ilustre mas que não tem poder democrático sobre coisa nenhuma disse umas coisas sobre um putativo ‘modelo’ de futuro para a RTP. A ‘técnica’ é conhecida: alguém diz umas coisas, a opinião publicada exalta-se e depois nada daquilo acontece. É o chamado ‘balão de ensaio’ que, desta vez, permitiu perceber a aliança táctica entre todos quantos serão ‘prejudicados’ pela alteração do estatuto da RTP. Não gosto da ‘técnica’, muito menos aplicada à coisa pública. Não simpatizo com o ‘mensageiro’ e penso que a ‘mensagem’ não vale o tempo que se gastar com ela. Penso, aliás, que a discussão em torno do futuro da RTP foi feita (ou devia ter sido feita) há um ano (mais ou menos), aquando da campanha eleitoral e da apresentação do programa do Governo na Assembleia da República. E o que ‘diz’ o dito programa? Basica e resumidamente, que

O espírito olímpico

Nas últimas semanas levantou-se algum clamor em Portugal por causa da falta de medalhas olímpicas. Ao mesmo tempo, criticou-se o(s) governo(s) pela falta de apoios e pela falta de exigência curricular ao nível da educação física e do desporto, o presidente do Comité Olímpico por estar há demasiado tempo no lugar, os atletas por estarem ‘acomodados’… criticou-se isto e aquilo, porque sim e porque não. Um País que durante 47 meses ignora tudo quanto não diga respeito ao futebol, acorda ao 48º a exigir medalhas. Há aqui um grande exagero, bem português aliás. Mas o que me trouxe a este tema foi algo mais que criticar A ou B, mesmo C e D. O que me trouxe a este tema tem nome: Clarisse Cruz, atleta portuguesa que corre os 3.000 metros obstáculos nas horas vagas do seu emprego na Câmara Municipal de Ovar. Clarisse Cruz é amadora: trabalha as horas normais durante a semana, tem a sua vida pessoal para acautelar e ainda arranja tempo para treinar: três mil metros, com obstáculos. Três mil

Duzentos mil euros

Parece que a passagem da volta a Portugal em bicicleta por Leiria tem um custo de 229.900 euros (a dividir por duas edições da prova). Parece que se justifica este dispêndio com a promoção televisiva de que o Concelho beneficia. Parece-me que 200 mil euros de tempo televisivo seria um excelente negócio. Se Leiria beneficiasse efectivamente de todo esse tempo. Mas não beneficia. Tem uns planos da terrinha antes da partida, tem uns planos da terrinha antes da chegada e depois tem horas de fitas escuras de alcatrão onde passam (e são seguidas) umas bicicletas. Essas fitas escuras tanto podem ser em Leiria como em alguidares de baixo ou charneca de cima. As fitas escuras são iguais em toda a parte… Ah… e tem ainda algumas horas de ‘animação’ em que os inenarráveis do costume guincham e gesticulam ‘alegremente’ perante uma plateia de ‘voluntários’. E por onde, habitualmente, desfilam alguns ‘notáveis’ da terrinha, com o também habitual destaque para o presidente da Câmara. Ah… mas es

Sobre as ‘novas’ Câmaras

Vai por aí uma razoável polémica em torno da proposta social-democrata de alteração à forma de composição das Câmaras Municipais. Polémica que envolve inclusivamente autarcas e militantes do PSD. Resumidamente, a proposta do PSD prevê a escolha do presidente da Câmara por eleição directa (será o primeiro da lista mais votada). O presidente escolherá posteriormente o seu elenco de vereadores, sujeitos a aprovação da Assembleia Municipal. Há muito que sou partidário de uma solução deste tipo (a par do reforço dos poderes e de mais reuniões da Assembleia Municipal). Em primeiro lugar, porque melhora a operacionalidade do poder local municipal ao mesmo tempo que melhora a responsabilização dos executivos municipais perante os eleitores. Em segundo lugar, porque a actual ‘parlamentarização’ dos executivos municipais pode ser boa para o ‘espectáculo mediático’ mas não é boa para a eficácia: gasta-se demasiado tempo em reuniões camarárias sem que daí resulte qualquer benefício assinalável.

Se isto é Justiça...

Provavelmente já ninguém se lembra como tudo começou. Provavelmente ninguém sabe ao certo o que é (era) o ‘caso Freeport’. Nem interessa, para o que aqui me traz. Segunda-feira, foi notícia o pedido de absolvição, pelo Ministério Público, dos dois arguidos no processo em julgamento no Tribunal do Barreiro. Nada de mais, comentou (por estas ou semelhantes palavras) o Procurador Geral da República. Será. Desconhecedor dos meandros processuais e das minudências legais, admito que sim, que à luz daquelas regras, seja normal. Mas enquanto cidadão parece-me… digamos… estranho que o Ministério Público formule uma acusação (ou lá como formalmente se designa), se realize o julgamento e, nas alegações finais, o mesmo Ministério Público venha pedir a absolvição daqueles que acusou, com base na falta de provas. Falta de provas? A julgar pela pormenorizadíssima ‘investigação jornalística’ que encheu dezenas e dezenas de páginas de jornais, horas e horas de rádio e televisão, provas é o que n

Para além da poeira

O que aconteceu nestes últimos dias na Câmara Municipal de Leiria e respectivos bastidores é demasiado importante e grave para ficar confinado ao diz-que-disse e a ‘notícias’ laterais. O que aconteceu nestes últimos dias na Câmara Municipal de Leiria e respectivos bastidores diz respeito ao governo do Concelho, ao dia-a-dia dos seus habitantes e tem, evidentemente, efeitos sobre a nossa vida. O ‘folhetim Leirisport’, se assim lhe podemos chamar, é uma história profundamente mal contada, assente na ‘bondade’ do cumprimento de uma promessa eleitoral (coisa bonita para colocar na botoeira do casaco). Em primeiro lugar, durante os quase três anos deste mandato, ninguém foi capaz de explicar (e provar) por A mais B as vantagens e virtualidades da extinção da empresa municipal. Desde um célebre ‘estudo’ de uma empresa de consultadoria (é assim que se escreve?) que, como é regra, concluía o que cada um quisesse ler, até às sucessivas declarações de sucessivos ‘responsáveis’, ninguém foi ca

O copo meio cheio

É habitual, para ilustrar as diferenças de perspectiva, dar o exemplo do copo de água com metade da sua capacidade ocupada: estará meio cheio para um optimista e estará meio vazio para um pessimista. Veio-me esta comparação à cabeça quando li, esta semana, que os números do desemprego se mantiveram em Maio relativamente a Abril. É verdade que é superior ao mês homólogo do ano anterior, mas parou a descida que se verificava há oito meses consecutivos e o desemprego entre os jovens registou um ligeiro recuo. Sendo desajustado preparar foguetes para assinalar o ‘feito’, vale a pena conjugar este indicador com os números da nossa balança comercial com o exterior. E aqui há progressos, consistentes, assinaláveis: diminuem as importações e aumentam as exportações, com diversificação dos mercados de destino. Disse Winston Churchill, depois de uma das primeiras vitórias aliadas na segunda Guerra Mundial, que não estavam perante o início do fim (da guerra) mas sim perante o fim do início. A

A modéstia ficava-nos bem

O presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, disse esta semana que a Europa não aceita lições de democracia e de economia. Disse-o no contexto de uma qualquer cimeira, algures do outro lado do Atlântico. A primeira parte da afirmação parece-me inquestionável: foi aqui que tudo começou (na Grécia antiga); foi aqui que quase tudo se desenvolveu (na Inglaterra e em França, principalmente) e depois crescentemente na maioria dos restantes países; foi daqui que a democracia irradiou para outros continentes, num movimento lento mas seguro e crescente. Quanto à segunda parte (as ‘lições de economia’) já me assaltam muitas dúvidas. É verdade que foi na Europa que, até há algumas décadas, se verificaram os maiores valores de crescimento e desenvolvimento, que foi aqui que, apresar de tudo, se alcançaram maiores índices de justiça social (ou menores índices de injustiça social…). Mas também é verdade que, há algumas décadas também, a Europa (ou a maioria da Europa) estagnou e, mesmo, inic

Um ano passado

Cumpriu-se esta semana um ano sobre as eleições legislativas antecipadas de que resultou este Governo. É tempo de um primeiro balanço. Em Abril de 2011, lembremos, Portugal pedira ajuda externa para ultrapassar a situação de eminente ruptura financeira em que se encontrava, do que resultou o chamado ‘Memorando de entendimento’ com o FMI, o BCE e a Comissão Europeia. A assinatura deste documento significou para PS, PSD e CDS/PP que a campanha eleitoral se desenrolou com um ‘programa de governo’ antecipadamente definido. Um ano passado, uma boa maneira de assinalar a data é ler a entrevista que Medina Carreira concedeu ao jornal ‘i’ no dia 2 deste mês. Com a sua habitual lucidez, o ministro das Finanças do primeiro Governo Constitucional traça um quadro bem real, e muito duro, da nossa realidade e do que aqui nos conduziu, enquadrando-a na crise mais geral do mundo Ocidental. Permitam-me que sublinhe a que é, no meu ponto de vista, a mensagem essencial desta entrevista: na nossa situ

Bairrismo

Sou de Leiria, gosto de ser de Leiria e tudo o que mexe com o nome da cidade/concelho/distrito(?) diz-me também respeito. Gosto de ler/ouvir coisas agradáveis, detesto ler/ouvir coisas desagradáveis. Escrevi isto, há umas semanas numa das redes sociais da moda, a propósito da situação que se vivia (e vive) no União de Leiria. Escrevo isto hoje aqui, a propósito de uma ‘notícia’ que li e que, por coincidência, também tem a ver com futebol (mas não só). Li algures que uma “Bancada do Estádio de Leiria [estava] em leilão na net”. E li também, no desenvolvimento da ‘notícia’, que “construída para acolher os adeptos do Euro 2004, uma das bancadas amovíveis do Estádio Municipal de Leiria foi adquirida pela Leirisport - Desporto, Lazer e Turismo de Leiria e está a ser leiloada pelos serviços de finanças de Beja por cerca de 54 mil euros”. A estranheza (digamos assim) nasceu logo no título. Depois li o resto e a estranheza evoluiu para revolta e incredulidade: porquê leiloada em Beja? Encu

A tragédia grega e nós

O que nos chega por estes dias da realidade grega deve fazer-nos pensar. Não apenas aos cidadãos comuns, mas especialmente aos detentores de cargos políticos. A Grécia é o melhor exemplo do que é viver acima das reais possibilidades de um país e de como um sistema político caduco e fechado sobre si próprio pode contribuir para uma situação insustentável. Saída de um processo eleitoral realizado em circunstâncias dificílimas, a Grécia está praticamente ingovernável. Porque vive à beira da falência e porque, num sinal claro de revolta, os eleitores pulverizaram de tal forma os seus votos que não há outra saída que não seja um nova eleição. Apesar da frustração mal dissimulada de alguns em Portugal, o exemplo grego não remete, na minha opinião, para a revolta (ou revolução) popular, para distúrbios de rua, para o cenário de destruição que as televisões nos vêm mostrando. O que o exemplo grego nos mostra é a falência de uma forma de democracia reduzida aos seus aspectos formais: à rea

Os donos da razão

Leio nos jornais que a Associação 25 de Abril, pela voz do seu presidente, comunicou urbi et orbi que não vai participar nas comemorações oficiais da ‘Revolução dos Cravos’. Ainda hesitei, temendo dar demasiada importância ao ‘facto’. Mas a revolta interior que senti ao ler tal texto acabou por me decidir. Era eu um jovem/adulto de 18 anos quando o 25 de Abril aconteceu. Vivi todas as etapas, todas as vicissitudes destes 38 anos, mais ou menos intensamente, mais ou menos participante. Aprendi a Democracia, tentei praticar a tolerância, o debate e a partilha de ideias e projectos. Aprendi que a Democracia não tem donos e que um dos seus primeiros ditames é o respeito pela vontade soberana do povo, expressa em eleições. Coisa, aliás, que os ‘militares de abril’ solenemente nos prometeram. Ouvir (ou ler) agora que alguns desses ‘militares de abril’ se excluem das comemorações alegando que (e cito) “a linha política seguida pelo actual poder político deixou de reflectir o regime democ

Homenagem ao Soutocico

Amanhã à noite [dia 14], numa povoação bem perto de Leiria, reedita-se um extraordinário exemplo do empenho e reunião de esforços de uma população inteira. Amanhã à noite, no Soutocico, mais de 300 figurantes dão corpo à tradição (quadrienal) do ‘Enterro do bacalhau’. Três centenas? Mais, bem mais!. É que, para além dos que se vão ver, paramentados a rigor, muitas mais pessoas dão o melhor delas para concretizar uma tradição nascida no final dos anos 30 do século passado (1938, salvo erro). O ‘Enterro do bacalhau’ é uma gigantesca peça de teatro satírico, incómoda para muitos ainda hoje (e que a ditadura proibiu). Mas é bastante mais. É uma prova de que a união faz a força, que com meios modestos é possível fazer, e fazer bem, que quando se definem objectivos é possível reunir toda uma comunidade, dar um exemplo de congregação de vontades. O ‘Enterro do bacalhau’ mostra que, apesar dos tempos correrem de feição aos individualismos, é possível mobilizar vontades e unir esforços na d

Dos idos de Março

Enquanto ainda ecoam os efeitos dos distúrbios que marcaram o dia de greve da passada semana, é bom que não nos distraiamos do essencial. O essencial não é a greve. A greve é um direito indiscutível, concordemos ou discordemos dos seus fundamentos e da sua oportunidade. O essencial também não é a manifestação que lhe esteve associada. Pelas razões anteriores e porque esta, em concreto, decorreu com toda a normalidade. O essencial foi o que aconteceu paralelamente e que acabou por ofuscar a iniciativa original, desvirtuando-a até. O essencial foi o que se passou no Chiado, entre uma carga policial que as imagens mais conhecidas demonstram ser excessiva e o que esteve na origem dessa carga. É urgente que saibamos tudo o que efectivamente se passou. Houve ‘agentes provocadores’? Se não, o que levou as forças policiais a agir daquela maneira (desproporcionada, insisto)? Se sim, quem foram? Das respostas a estas perguntas depende muita da saúde da nossa Democracia. Em primeiro lugar por

Sobre futebol (ou talvez não)

Esta semana ficará registada como a que viu ressuscitarem velhos fantasmas no mundo do ‘nosso’ futebol profissional. Quem tenha uma data de nascimento mais antiga (ou quem se dedique a ler sobre estas coisas) lembrar-se-á que isto já aconteceu no passado. De facto, a opção pelo aumento do número de clubes nos principais campeonatos nacionais não é nova e, tal como nesse passado, correu mal: entre suspeitas e certezas, correu imensa tinta, houve queixas de favorecimentos e, alguns anos depois, lá se voltou atrás (para o modelo actual). Aparentemente, não se aprendeu com o erro (ou, pior, aprendeu-se…) e vá de avançar com uma mudança de regras que é tudo menos clara, transparente e prestigiante. Com os campeonatos a aproximarem-se do final, foi resolvido esta semana que na próxima época haverá mais equipas a disputá-los. Pior: foi resolvido que, ao contrário do habitual, não haverá “despromoções”; ou seja, fica tudo na mesma, mais duas equipas que subirão do escalão mais baixo ao mais

Sobre as Freguesias

Em Outubro do ano passado, escrevi neste espaço sobre a anunciada intenção de redesenhar o mapa das Freguesias de Portugal. Escrevi ter muitas dúvidas sobre a ‘bondade’ da ‘reforma’ e sobre os sentimentos de rejeição que tal processo iria necessariamente desencadear. É desnecessário repetir pormenorizadamente o que então desenvolvi, salvo para sublinhar que me parece inútil e contraproducente desencadear iniciativas radicais do tipo que foi agora anunciado pela maioria dos (e das) presidentes de Junta de Freguesia do Concelho. Compreendo a revolta e o sentimento de injustiça que deve dominar, neste momento, quem se submeteu a sufrágio para servir as suas populações e as suas terras. Compreendo que se perguntem ‘porquê nós?’. Os autarcas de Freguesia são provavelmente os mais incompreendidos políticos da nossa república. Colocados no degrau mais baixo da pirâmide, sofrem todos os inconvenientes do exercício do poder sem verem, em troca, reconhecida a importância do trabalho (não re

Haverá esperança?

Vai para oito meses, escrevi neste espaço que não devíamos alimentar esperanças vãs no que respeita à abertura da Base Aérea de Monte Real ao tráfego civil. Era tempo, sustentei, de preparar estratégias de mais longo prazo, à espera de melhores dias no que à economia e à capacidade de investimento dizia respeito. Todavia, nestes meses (e especialmente na última semana) alguns indícios fazem pensar. Em primeiro lugar, voltou à praça pública a solução ‘Portela+1’, há muito sustentada pelos defensores do aeroporto de Lisboa. Consiste esta solução, basicamente, na manutenção operacional do actual aeroporto e no aproveitamento de outra infra-estrutura aeroportuária como complemento daquele. Quando se voltou a falar deste assunto, logo saltaram para a Comunicação Social as hipóteses Alverca, Montijo e Sintra (por ordem alfabética para não melindrar ninguém…). Mais recentemente, terá ficado apenas Sintra ‘na corrida’. Até que… Até que através do presidente do Turismo do Centro, que invoco

Ser solidário

Há cerca de um ano tive oportunidade de assistir, ao vivo, a um jogo do Barça no seu estádio. À entrada, ainda meio atordoado com a enorme massa humana que por ali deambulava, meteram-me um saco e um folheto na mão. Hummmm… em catalão a coisa ficava meio difícil, mas afinal foi fácil. O FC Barcelona, em colaboração com algumas empresas de distribuição alimentar, desafiava os seus sócios e simpatizantes a colaborar com o Banco Alimentar local para minimizar as dificuldades de muitos dos seus conterrâneos: nos próximos jogos no estádio e no pavilhão, bastava devolver o saco que tinha nas mãos com produtos alimentares lá dentro (podia, também, fazer a doação pela internet). Vem isto a propósito de duas iniciativas semelhantes que aconteceram recentemente em Portugal e que confirmam os Portugueses como um povo solidário. Aconteceu em Braga e em Coimbra, por iniciativa dos clubes locais e, em resultado, foram entregues a instituições de solidariedade cerca de dez toneladas de alimentos (

Uma grande perda

Quando conheci o eng. Ribeiro Vieira? Salvo erro na Assembleia Municipal de Leiria. Ou na (re)fundação do 'Jornal de Leiria', quando me convidou para colunista. Pouco importa o pormenor. Antes disso já ele tinha sido vereador da Câmara Municipal. E 'militar de Abril'. E já era empresário. Fizemos a par muitos anos de caminho. Nos jornais (cada um no seu), na ADLEI, nos Congressos de Leiria e Alta Estremadura, em campanhas eleitorais... Trabalhei mais directamente com ele, por dois períodos, na Jorlis. No 'Jornal de Leiria', no 'Correio de Pombal' e no 'Região de Cister'. Foi um homem importante para a região e um homem interessante no contacto pessoal. Um homem que ajudou muita gente, que se empenhou em muitas causas, que ouvia muita gente. Nem sempre fácil, mas justo. Gostava do risco (dizia muitas vezes que não sabia trabalhar sem concorrência). Gostava da sua terra. Por isso esteve em tanto 'sítio', por isso sonhou os jornais,

Concentradíssimos

Há muito, muito tempo, era a abertura da Base Aérea de Monte Real ao tráfego civil. Não foi… porque não. Há muito tempo, era o novo aeroporto de Lisboa na Ota. Não foi porque a localização era má (e não temos dinheiro nem para ali nem para outro sítio). Há algum tempo, era o TGV com estação em Leiria (e o ‘Arco do Oeste’, lembram-se?). Também não foi porque não temos dinheiro. Há mais tempo ainda (muito mais tempo!) era a Linha do Oeste com comboios. Também não é porque não temos horários (nem comboios…). Tudo isto nos foi sucessivamente prometido, garantido, projectado, anunciado, reprometido, regarantido, reprojectado, reanunciado, a um ritmo mais ou menos quadrienal. A par (e antes, e depois e em vez de…) de tudo isto, que em conjunto ou separadamente muito contribuiria para o desenvolvimento e a projecção da região, fomos paulatinamente perdendo os (poucos) centros de (alguma) decisão que mantínhamos. Enquanto o discurso oficial elogiava e propagandeava a desconcentração, a d

Direitos e garantias

Em Maio do ano passado foi notícia a aprovação de um sistema de videovigilância para o centro da cidade de Leiria. Nessa ocasião, expressei aqui a minha discordância, em nome de superiores (acredito eu) direitos individuais e da convicção (que mantenho) de que não está esgotada a capacidade de actuação da PSP. Agora, e a propósito do ruído e do horário de funcionamento dos bares, leio no ‘Região de Leiria’ uma “proposta” de constituição de grupos de ‘voluntários’ destinados a (e cito) “monitorizar a ordem pública no centro histórico de Leiria”. Não discuto a ‘bondade’ da ideia, tal como não questiono as intenções que determinaram a aprovação da videovigilância. Mas são ambas iniciativas perigosas, daquelas que sabemos como começam mas não sabemos como acabam. Por outro lado, ambas constituem a admissão, por parte da sociedade, da incapacidade das forças de segurança para assegurarem uma das funções primordiais do Estado: garantir a segurança e os direitos das pessoas. Conclusão peri