A vez do Governo

A comunicação do primeiro-ministro na passada sexta-feira provocou ondas de choque que, no momento em que escrevo, são imprevisíveis nos seus efeitos.
Embora as medidas anunciadas careçam de mais completa explicação quanto aos efeitos e abrangência, é evidente que implicam mais sacrifícios para a generalidade das famílias.
Não discuto a necessidade nem a inevitabilidade, porque nada sei de economia ou de finanças públicas. Não discuto aliás nada: para o caso, constato a realidade.
Admitindo a inevitabilidade, impõe-se que o Governo faça mais, muito mais, da sua parte. Perante os sacrifícios impostos à maioria da população, é obrigação do Governo mostrar que sabe poupar.
Exige-se que o próximo Orçamento do Estado (e a prática diária do Governo) corte a sério na despesa (para além das retribuições do funcionalismo público). Exige-se a concretização de muitas coisas anunciadas desde o programa do Governo: fim da duplicação de organismos e serviços, racionalização de gastos, corte nas avenças e contratos de assessoria, consultadoria e afins, saneamento das empresas públicas (impondo tectos salariais ‘decentes’), verdadeira renegociação das parcerias público-privadas, etc, etc. Atirar a reforma do Estado para 2014 é, apenas, mais uma promessa.
É preciso que percebamos que a nossa parte no esforço é acompanhada pelo real e imediato ‘emagrecimento do Estado’: a prometida relação 2/3 de redução da despesa para 1/3 de aumento de receita não pode ser garantida pelos cortes nos salários.
A declaração do ministro Vítor Gaspar não altera o essencial do que escrevo. Simples palavras não chegam e podem, mesmo, ser gasolina deitada na fogueira.
Já mostrámos que percebemos a gravidade da situação, demonstrámos ser capazes de fazer sacrifícios, cumprimos a nossa parte.
É a vez do Governo corresponder. O tempo está a contar e o relógio não pára nem recomeça.
(in 'Região de Leiria' - "Da margem do Lis", 14 de Setembro)

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