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Mostrando postagens de 2011

Sobre o respeito (ou a falta dele)

A Câmara de Leiria quer alterar o horário de funcionamento dos bares do Centro Histórico: os estabelecimentos encerrarão à meia-noite, excepto ao fim-de-semana e vésperas de feriados. Custa-me acreditar numa coisa destas. Custa-me verificar ao que chegou a falta de civismo e de respeito. Custa-me crer que as autoridades se demitam tão facilmente das suas responsabilidades. Há, efectivamente, muita falta de respeito na noite do Centro Histórico: há bares que abusam do ‘som ambiente’; há frequentadores que abusam das cordas vocais e outras fontes de ruído. Exige-se mais respeito pelos moradores. Mas há outros ‘actores’ a respeitar. Desde logo os frequentadores ‘normais’: aqueles que não falam alto, que não gritam, que não pontapeiam objectos… que apenas querem beber um copo e dar dois dedos de conversa. Depois, os empresários que investiram confiando na estabilidade das regras, em palavras como ‘reabilitação’, ‘animação’ e outras semelhantes. Ainda os trabalhadores dos bares, cujos po

Um pouco de serenidade, por favor

Há cerca de dois meses, escrevi neste espaço sobre a anunciada reforma do Poder Local, especificamente sobre o (anunciado) novo mapa das Freguesias. Adiantei então um conjunto de dúvidas sobre a ‘bondade’ dessa reforma, quer no que respeitará a poupança de recursos financeiros (globalmente ínfimos) quer no que isso poderia significar de ‘agressão’ ao sentimento de pertença das populações (com particular incidência fora das zonas urbanas). Parecia-me, também, estar-se a menosprezar a proximidade dos órgãos autárquicos das Freguesias relativamente aos cidadãos, o que do ponto de vista da Democracia não me parece muito aconselhável. Será inquestionável a necessidade de repensar o mapa autárquico e as funções de cada um dos seus órgãos, processo para que devemos partir sem preconceitos nem dogmatismo. Necessariamente, haverá que defrontar resistências e bairrismos de vários matizes, mas haverá que olhar para a realidade e encontrar uma solução que melhore a situação actual e, sobretudo,

Apita o comboio

Noticia o ‘Público’ que terá sido adiado o encerramento do transporte de passageiros em parte da Linha do Oeste, previsto para o início de 2012. Escreve o jornal (na terça-feira) que na origem desta alteração está a necessidade de realizar um concurso público para assegurar o transporte rodoviário dos passageiros afectados. E uma meia boa notícia. É boa, porque adia a sentença de morte. É só meia, porque não há qualquer garantia de reversão do essencial: o fim do transporte de passageiros no sector a Norte de Caldas da Rainha. Entretanto, constituíra-se um movimento cívico em defesa da Linha do Oeste e a Câmara Municipal de Caldas da Rainha anunciara a realização de um ‘estudo de sustentabilidade’. É pois tempo de trabalho em contra-relógio. Tempo de sublinhar o aumento de utilização da linha durante o ano de 2010 (ignoro números relativos ao ano corrente). Tempo de demonstrar que, mesmo sem qualquer investimento, bastará melhorar a oferta horária da Linha do Oeste para que a su

Uma questão de confiança

Num caso de emergência médica, as ambulâncias não podem transportar qualquer acompanhante da(s) vítima(s). Assim à primeira vista, nem parece nada esquisito: que vai uma pessoa sem conhecimentos específicos fazer dentro da ambulância, a caminho de uma unidade de saúde? Aparentemente nada. Há dias, uma pessoa conhecida necessitou de assistência hospitalar na sequência de uma pancada recebida na cabeça. Foi conduzida ao Hospital de Leiria, de onde, por precaução, foi encaminhada para uma unidade hospitalar de Coimbra. Sem acompanhamento familiar, pelo acima explicado e porque seria desnecessário. Poupo nos pormenores para chegar ao que interessa. No dia seguinte, esta pessoa teve que ser procurada pelas autoridades policiais, porque o hospital lhe perdera o rasto. Este episódio, aparentemente sem consequências ‘laterais’, fez acordar histórias passadas, em vários outros hospitais públicos, de bebés raptados e doentes que se ausentaram em condições idênticas às do caso que relatei. E

Brincar com coisas sérias

Voltou a aquecer a já antiga disputa em torno da possibilidade de troca de medicamentos previamente receitados. Em causa está a (próxima) prescrição por substância activa e não por nome comercial. Alega a Ordem dos Médicos que isso é perigoso, pois os medicamentos não são todos iguais nem oferecem a mesma garantia e promete, mesmo, que os médicos vão distribuir um folheto de alerta aos seus doentes. Ripostam os farmacêuticos que não pode ser colocada em causa a qualidade dos remédios, pois essa apreciação compete ao Infarmed (e, portanto, se estão à venda é porque cumprem os padrões exigidos). No meio, como sempre…, os ‘consumidores’ interrogam-se. Se os genéricos são mais baratos e se, para mais, há uns genéricos mais baratos que outros, por que não podem poupar algum dinheiro? Em quem devem confiar? Nos seus médicos? Nos seus farmacêuticos? A resposta mais natural, digamos, seria confiar nos médicos. Afinal de contas, as farmácias têm interesse económico na venda de medicamentos

Ensaio sobre o futuro

Tenho muitas dúvidas sobre a anunciada reforma da organização do Poder Local, especialmente no que respeita ao redesenho das Freguesias. Sucintamente, porque as economias de gastos são mínimas e podiam conseguir-se de outro modo, porque se está a mexer em sentimentos de pertença muito fortes (especialmente fora das zonas urbanas) e porque as Juntas de Freguesia são a sede de poder mais próximo dos cidadãos (mesmo que esse poder seja [quase] ínfimo). Todavia, e porque o que tem que ser tem muita força, gastei algum tempo a olhar para o mapa do Concelho de Leiria, visto à luz do que não poderá ser: 20, em 29, Freguesias terão os dias contados. A anunciada reforma assenta em critérios predominantemente numéricos, medidos em quilómetros e em habitantes. O que me parece pouco, embora sejam provavelmente os critérios mais objectivos que se poderiam encontrar. Isto dito, e sublinhando que o ponto de partida é a inevitabilidade da reforma, penso que se poderia aproveitar a oportunidade par

Portugal no seu pior

Portugal é um país de ‘gajos porreiros’… depois de mortos. Portugal é um país de gente boa, toda muito amiga uma da outra… enquanto há uns pós de poder no casaco de cada uma. Portugal é um país de descobridores: gente que, de um momento para o outro e mal se suspeite que os pós de poder podem voar de um qualquer casaco, descobre coisas inauditas sobre a personagem em questão. Nesse momento, e até à ‘vida eterna’, essa pessoa passa a ter todos os defeitos do mundo, desde a corrupção ao despesismo, do gostar de copos até ao mau feitio… É o que se vem verificando a propósito das eleições regionais na Madeira. Alberto João jardim é o mesmo há mais de três décadas: truculento, desbocado, excessivo, amigo dos copos e dos charutos (até ao susto recente…), insultuoso por vezes. Há mais de 30 anos que a vida política da Madeira é igual: a preto-e-branco, amigos de um lado inimigos do outro. Não há meios termos, não há moderação, haverá tolerância zero, favorecimentos, benefícios diversos.

Os comboios (de novo)

O ministro da Economia anunciou esta semana a solução do Governo para o projecto de alta velocidade ferroviária que, intermitentemente, vem ocupando o espaço mediático desde há nem sei bem quantos anos. Depois do ‘tê deitado’, depois do ‘pi deitado’ e de algumas outras ‘soluções’, o “TGV” irá ser substituído por duas linhas de ‘velocidade elevada’ que permitam a ligação dos portos atlânticos de Aveiro e Sines a Espanha (e à Europa). Se percebi, linhas mistas de passageiros e mercadorias que permitem aproveitar os previstos fundos comunitários e ficarão mais baratas que a ‘alta velocidade’. Também se percebi, faltará o acordo espanhol, coisa que talvez não seja assim tão simples de obter. E faltará, ainda, saber se temos capacidade para assegurar a componente nacional do financiamento e se, mesmo com estas alterações, o projecto será economicamente viável. Ligar portos portugueses ao interior espanhol é, à partida, uma boa ideia, especialmente porque os portos galegos estão mais longe

Algo de novo a Oeste?

Dizem alguns teóricos destas coisas da Comunicação que não se devem utilizar títulos interrogativos… Mas diz o povo que as regras existem para ser quebradas. E vem este título interrogativo a propósito do tema de abertura da secção Mercado da anterior edição do ‘Região de Leiria’. Dá-nos conta o Cláudio Garcia que a CP defende a modernização da Linha do Oeste, designadamente através da respectiva electrificação e – que fartura! – da “quadruplicação” de um dos seus troços. Se o jornalista Cláudio Garcia escreveu e o ‘Região de Leiria’ publicou é porque é verdade. A CP defende mesmo a modernização da Linha do Oeste! A minha costela céptica manda-me desconfiar. Agora? Em tempo de vacas magríssimas? Tantos anos depois da generalidade das forças vivas da região defenderem o mesmo (alguém se lembra, ainda, de Henrique Neto enquanto candidato a deputado)? Recorrendo ao mesmo povo… quando a esmola é grande, o pobre desconfia. Mas também tenho uma costela optimista. E ela manda-me acender u

Sobre o futuro (parte III)

Alguns dias antes das eleições legislativas de Junho, ensaiei aqui uma reflexão sobre a organização do poder político em Portugal. Entendi, então, que estando em apreciação pelo eleitorado as propostas dos partidos não devia intervir nesse âmbito. É tempo, agora. Em primeiro lugar, não me parece que se deva discutir o assunto com base simplesmente no custo desse patamar da nossa organização política (principalmente quando é evidente o desperdício noutros ‘sítios’…). Em segundo lugar, penso que a definição geográfica do Poder Local deve assentar no princípio do melhor serviço aos cidadãos e da proximidade desse mesmo serviço. Alguns dos males de que padecemos enquanto país têm precisamente a ver com o centralismo do exercício do poder. Em terceiro lugar, penso ser essencial mudar a forma de eleição dos órgãos do Poder Local municipal. Em minha opinião não faz sentido que as Câmaras Municipais sejam o único órgão executivo eleito por sufrágio directo e método proporcional, já que isso

Um mundo perigoso

"Muito do que hoje parece ‘natural’ remonta aos anos 80: a obsessão pela criação de riqueza, o culto da privatização e do sector privado, as crescentes disparidades entre ricos e pobres. E sobretudo a retórica que vem junto: admiração acrítica dos mercados sem entraves, desdém pelo sector público, a ilusão do crescimento ilimitado. Não podemos continuar a viver assim. O pequeno crash de 2008 foi um aviso de que o capitalismo não-regulado é o pior inimigo de si mesmo: mais cedo ou mais tarde há-de ser vítima dos seus próprios excessos e para salvar-se recorrerá novamente ao Estado. Mas se nos limitarmos a apanhar os bocados e continuar como dantes, podermos esperar convulsões maiores nos próximos anos. E porém parecemos incapazes de conceber alternativas." – Tony Judt (1948-2010), historiador, escritor e professor universitário britânico, in ‘Um tratado sobre os nossos actuais descontentamentos’ Perdoar-me-ão os leitores que metade deste texto seja ‘emprestada’ e a outra me

Obrigado Moody’s

O dia 5 de Julho de 2011 poderá ficar na nossa história recente como o dia em que a Europa acordou. No dia 5 de Julho, recordo, a agência de notação Moody’s definiu que a situação financeira de Portugal era ‘lixo’, gerando no País um movimento misto de incredulidade (face às medidas que o Governo tinha anunciado) e repulsa. Deixando de lado as questões técnicas, que não domino de todo, vou tentar seguir o raciocínio de um amigo (que me inspirou este texto). Diz ele que o anúncio da Moody’s foi o sinal de alarme de que a Europa (pelo menos a do Euro) precisava para olhar a sério para a crise da moeda única e das economias de boa parte dos países que a integram. E que, por isso, devíamos estar gratos à dita agência. Alguns depois, os líderes dos países do Euro aprovaram significativas alterações e complementos aos planos de ajuda á Grécia e a Portugal, diminuindo o esforço exigido para solver os respectivos compromissos. Mas foi da Alemanha que, na minha perspectiva, veio a melhor no

(Não) apita o comboio

Há uma semana (quase dia por dia) a CP anunciava, secamente, que ia encerrar a ligação norte entre Portugal e Espanha (Porto-Vigo). Há uma semana (dia por dia), a CP anunciava que, afinal, a ligação (quatro comboios por dia, dois em cada sentido) se mantinha porque a sua congénere espanhola assumia os custos de exploração no seu território. Chamo aqui o assunto porque aquela ligação é bastante parecida com a nossa Linha do Oeste: não electrificada, com paragens em (quase) todas as estações e apeadeiros, em ‘composições’ velhas de décadas (e, como tal, desconfortáveis, barulhentas e lentas). E com uma frequência semelhante. Experimentem os leitores ir de Leiria a Lisboa ou a Coimbra pela Linha do Oeste… Eu fiz, há cerca de um ano, a viagem Viana do Castelo-Leiria. É, digamos, interessante: Viana-Porto, Porto-Coimbra, Coimbra-Leiria, com 17 minutos de intervalo no Porto e 1h25 em Coimbra… cinco horas e vinte e três minutos, na que é a ligação mais rápida; as outras duas demoram mais u

Entre Beja e Monte Real (com Espanha como exemplo)

(obrigado ao João Melo Alvim pela ‘inspiração’) A imprensa espanhola tem, nos últimos dias, dado particular destaque à situação que se vive no ‘mapa’ aeroportuário do país. A febre de construção e remodelação de aeroportos que varreu Espanha nos anos recentes conduziu a uma situação explosiva. Milhares de milhões de euros ‘investidos’, inúmeros aeroportos construídos ou ampliados, expectativas alimentadas e que não se verificam… o panorama é negro e vai revelando parte das razões que levaram a Espanha a uma situação financeira não muito diferente da nossa, quiçá até mais grave. Como se não bastasse o panorama aeroportuário, também a alta velocidade ferroviária começa a revelar as consequências de investimentos mal ponderados. Que temos nós a ver com isso? Deixemos de lado o TGV, que felizmente não temos, e vejamos os aviões. Beja é o melhor exemplo que poderíamos ter para ilustrar o erro espanhol: milhões de euros consumidos, um voo semanal, menos de dez passageiros por voo. E Mo

Basta de trapalhadas

No preciso dia em que se cumpria um ano sobre a inexistência de governo na Bélgica (fruto do resultado das eleições legislativas e da dificuldade dos partidos ultrapassarem as suas divergências), soube-se em Portugal que haveria um problema com os votos (ou com alguns votos) dos emigrantes no Brasil. Problema que terá motivado a apresentação de dois protestos, cuja apreciação pode prolongar (ainda mais) o apuramento final das eleições de 5 de Junho. Se assim for, ficamos numa posição pior que a dos belgas. Lá, um país populacionalmente semelhante a Portugal, são diferenças ‘nacionais’ (flamengos de um lado, francófonos do outro) que justificam a incapacidade de formar governo. Cá, é mais uma trapalhada… Como se não bastasse precisarmos de três meses (sim, o governo Sócrates ‘caiu’ a 23 de Março) para realizar eleições, contar os votos e assistir à posse do novo governo, ainda acrescentamos um sem número de pequenas, médias ou grandes complicações. Não se entende o (excessivo) prazo

Obrigação de voto

"O castigo por não participares na política é acabares a ser governado por quem te é inferior" – Platão É longa de séculos a luta dos povos pelo sufrágio universal e secreto como forma primeira de participação na res publica . Foi longa de décadas a caminhada de Portugal rumo à consagração desse princípio básico da Democracia como ainda hoje a entendemos. Chegou em 1975, mas passados quase 40 anos a participação nas eleições decresceu sucessivamente. Chegámos a um ponto em que pouco mais de metade dos eleitores ‘se dá ao trabalho’ de votar. Significa isto que delegamos nos outros a escolha dos caminhos colectivos. Delegamos, mas queixamo-nos no momento seguinte. Queixamo-nos que o ‘povo’ se ‘enganou’, queixamo-nos dos ‘políticos’ que só se preocupam com eles e com os seus amigos, queixamo-nos da democracia, que não é ‘real’, mas não nos queixamos de nós próprios, os que se alhearam da vida colectiva. As eleições do próximo domingo são mais importantes que todas as anteri

Big brother

Foi anunciado esta semana o projecto de instalação de quase meia centena de câmaras de videovigilância no centro de Leiria. Os objectivos são louváveis e inquestionáveis, mas repugna-me o meio para os atingir. É verdade que qualquer de nós, nos mais pequenos actos da vida, já prescindiu de uma fatia significativa da sua privacidade: utilizamos cartões de pagamento e a ‘Via verde’, andamos permanentemente com um telemóvel no bolso. Todos esses ‘equipamentos’ deixam rasto, bastando seguir as ‘pegadas’. Mas utilizamos esses objectos porque, quando e onde queremos: basta desligar o telemóvel para nos ‘evaporarmos’… Outra coisa completamente diferente é um sistema de videovigilância. Que não controlamos nem saberemos efectivamente onde está. Mas que está, vê e, presumo, regista. E ser controlado pela PSP não altera o fundo da questão. Incomoda-me saber-me permanentemente observado, mesmo que seja para ‘garantir’ a minha ‘segurança’. Incomoda-me saber que alguém, algures, sabe onde estou

Um mundo melhor

Há muitos anos (no inícios dos 90 do século XX) tive oportunidade de visitar os campos de concentração e extermínio de Auschwitz-Birkenau, provavelmente a maior ‘fábrica da morte’ do regime nazi. Uma das sensações mais marcantes (se é que se pode falar de mais ou menos num tal cenário de horrores) aconteceu quase no fim da caminhada por Auschwitz, quando deparei com a forca onde foi executado o mais conhecido comandante do campo, Rudolf Höss – foi como que um suspiro de alívio: apesar de tudo, tinha-se feito alguma justiça. Enquanto escrevo este texto (na noite de segunda-feira) , é um pouco esse sentimento que me domina relativamente à anunciada morte de Osama Bin Laden. Escrevo ‘anunciada morte’ porque me parece serem ainda poucas as evidências de tal facto: há ainda muita espuma no ar, muitas incongruências nos diversos ‘relatos’, muitas pontas soltas. Apesar do teor assertivo da declaração de Barack Obama e das notícias sobre a conformidade do ADN, a verdade é que Bin Laden era

Sobre o futuro (parte II)

Há duas semanas enunciei aqui o que penso ser a obrigação mínima dos cidadãos maiores de 18 anos: votar no próximo dia 5 de Junho, seja onde for e em quem for. Infelizmente, e por razões que não cabem nesta prosa, as nossas escolhas estão algo limitadas, controladas até, pela necessidade de intervenção externa no que às contas públicas diz respeito. Dito de outra forma, o programa económico e financeiro para os próximos quatro anos será definido fora do nosso alcance enquanto eleitores. É mau, mas é onde nos colocámos. Assim sendo, penso que a próxima legislatura será uma oportunidade única para mudar o nosso sistema político, designadamente no que respeita à representatividade dos cidadãos e à responsabilidade dos eleitos. A um primeiro nível, e mais que discutir ‘quantos?’, é essencial mudar a forma de eleição dos deputados. É tempo, mais que tempo, de avançar para a definição de círculos uninominais, de acabar com a ‘irresponsabilidade’ de listas, com o princípio de que os cidadã

Sobre o futuro

Pouco importa, aqui e agora, discorrer sobre o que nos leva a eleições legislativas antecipadas. Tal como não interessa, neste momento, questionar os prazos larguíssimos entre a marcação e a respectiva realização. Da mesma forma, não é tempo de dissecar a quem cabe a responsabilidade da situação que vivemos. É importante debater tudo quanto antecede mas não agora. Algumas questões já tiveram o seu tempo. Outras tê-lo-ão ainda. O importante é sublinhar a nossa responsabilidade colectiva no que à res publica diz respeito. Permitam-me que recue décadas, para recordar a abstenção crescente que se regista em Portugal. Diz-se, ciclicamente e na versão ‘optimista’, que é normal, que ‘na Europa’ também é assim, que não é grave. Diz-se, também ciclicamente e na versão ‘pessimista’, que isto vem sendo assim porque o eleitorado não acredita nos ‘políticos’, que ‘eles’ são todos iguais e que nada merece o ‘incómodo’ de ir votar. Neste espaço não cabe a contestação a qualquer das versões, em

Nuclear? Não!

Hiroshima e Nagasaki (Japão, 1945), Three Mile Island (Estados Unidos da América, 1979), Chernobyl (Ucrânia, 1986), Fukushima (Japão, 2011). Ali aconteceram os cinco maiores desastres nucleares do Mundo. Eu sei que os dois primeiros não foram bem ‘desastres’; foram bombardeamentos militares, quiçá desnecessários. Mas, tal como os outros, provocaram um número astronómico de vítimas de uma energia comummente apresentada como ‘limpa’. Junto-os aos outros apenas para sublinhar a coincidência trágica de terem ocorrido no Japão, precisamente onde aconteceu o mais recente desastre. O debate em torno do nuclear, enquanto energia limpa e barata que nos pode ‘salvar’ dos malefícios (e preços) do petróleo, ganhou nova actualidade perante a catástrofe japonesa deste mês. Na minha opinião, tecnicamente ignorante mas humanamente preocupado, por muito ‘limpo’ e barato que seja, o nuclear não se justifica enquanto fonte energética. Precisamente por causa dos riscos incontroláveis que encerra. Em Th

Assim não

Leio nos jornais que um grupo do movimento auto-denominado “Geração à rasca” interrompeu uma iniciativa onde discursava José Sócrates, secretário-geral do Partido Socialista. Pretenderiam falar, mas foram impedidos e postos fora da sala. Não me parece que tenha sido uma boa ideia, pese o facto de afirmarem ter pago o jantar e Sócrates declarar que gostava de os ter ali a jantar. Milhares de jovens têm toda a razão para se sentirem ‘excluídos’ da sociedade, por não verem reconhecida e aproveitada a formação que perseguiram ao longo de muitos anos, por não vislumbrarem um futuro minimamente digno para cada um deles. Têm razão para se sentirem discriminados na procura de emprego, têm razão para se sentirem as principais vítimas de um ‘modelo de sociedade’ que não premeia o mérito nem assegura verdadeira igualdade de oportunidades. Têm razão, até, para algum desespero ao verem que o futuro que os espera lhes oferecerá bastantes menos garantias que as que foram proporcionadas às geraçõ

Já basta!

Uma notícia num dos jornais de hoje (escrevo na terça-feira, dia 22) levou-me a alterar o texto que tinha pensado escrever para partilhar com os leitores do ‘Região de Leiria’. Li que o Tribunal Constitucional alterou novamente o “apuramento final” da eleição presidencial de 23 de Janeiro passado. Li e pasmei… Um mês depois do acto eleitoral, e 15 dias antes da tomada de posse do ‘novo’ Presidente da República, ainda não se sabe quantos votos teve cada candidato? Pior… nem sequer se sabe quantos somos nós, eleitores portugueses? Em linguagem popular muito em voga, isto é mau de mais para ser verdade. É (era) impensável que uma ‘coisa’ destas pudesse acontecer em Portugal, perto de quatro décadas depois do 25 de Abril. A recente eleição presidencial já ficara marcada pela confusão, inexplicada, do que posso designar como ‘abstenção forçada’ de um número incalculável de eleitores. Uma ‘nódoa’ que jamais poderá ser ‘limpa’ e que desprestigia a política portuguesa muito para além do

A Democracia tem preço?

“À excepção de todos os outros sistemas criados, a democracia é o pior deles” (frase atribuída a Winston Churchill) Mais uma vez, subiu à praça pública o tema (recorrente) da diminuição do número de deputados na Assembleia da República. E, como habitualmente, duas ‘teses’ se defrontam: os sim’s (agora reforçados pela ‘crise’) e os não’s (invocando o fim da proporcionalidade). Como habitualmente, o debate centra-se no acessório e esquece o essencial. Não tanto como habitualmente, insiste-se no desperdício de gastar tanto dinheiro. Repugna-me que se discuta a Democracia com base no seu ‘preço’: a Democracia será sempre ‘cara’ se não for… democracia; será sempre ‘barata’ se for… democracia. A nossa Democracia é cara porque funciona mal (veja-se o caso inacreditável da ‘abstenção forçada’ nas recentes eleições presidenciais) e não porque tem X ou Y deputados (ou ministros, ou secretários de Estado, ou…). A nossa Democracia é cara porque os deputados não representam nada nem ninguém:

Uma vergonha

Centenas (milhares, o que for) de eleitores foram impedidos de votar no passado domingo. O facto, só por si, já é suficientemente grave para passar sem consequências (sérias). Estamos perante uma situação inédita na história da nossa Democracia: cidadãos eleitores impedidos de o ser por uma qualquer deficiência mecânica (digamos assim). Devo confessar que durante o apuramento dos resultados não me apercebi da dimensão do problema; e por isso não o valorizei devidamente. Já tarde na noite, e principalmente na manhã de segunda-feira, é que me inteirei da dimensão do que sucedera. Como é possível que, numa sociedade tão ‘tecnológica’, tão avançada, uma coisa simples, como saber o número de eleitor, se tenha revelado tão complicada, e mesmo impossível? Como aceitar passiva e acriticamente que centenas (ou milhares, ou o que for) de eleitores tenham desistido de votar, desesperados e exasperados, pela completa ineficiência da máquina do Estado? Como entender que os responsáveis resumam

Para onde foram os votos de Soares?

Cavaco Silva (baixemos os olhos, compungidos) perdeu meio milhão de votos. Manuel Alegre (olhemos de frente, semi-ufanos) baixou a sua votação em apenas 200 mil. Será assim? Não! Claramente não! Ali em cima mora apenas 50 por cento de verdade: Cavaco foi reeleito com menos 543327 votos. Manuel Alegre recolheu, há cinco anos, 1126855 votos. Era, então, ‘o’ candidato anti-sistema, blá, blá, blá… E ontem? Ontem o mesmo Manuel Alegre apresentou-se nas urnas como candidato do PS, do BE e do PCTP-MRPP. Ou seja, juntou à sua ‘qualidade’ de independente anti-sistema, a ‘qualidade’ de candidato de quase toda a esquerda. Somemos, então, os votos para poder comparar o que é comparável: somemos aos seus 1126855 votos, os 780905 de Mário Soares (candidato oficial do PS em 2006), os 288625 de Francisco Louçã (do BE) e os 23707 de Garcia Pereira (do PCTP-MRPP). Ou seja, 2220092 votos. Sendo que ontem houve 832021 votos em Manuel Alegre, teremos que concluir por uma perda de 1388071 eleitores

Sigamos a bola

Sim, eu sei! É futebol, e futebol não é coisa recomendável. Eu sei, mas o melhor do mundo é Português e até partilhou a distinção em Português. Além disso, no mar de desgraça que inunda o panorama noticioso, um galho a que nos agarremos só faz bem. Mais ainda, o título de ‘melhor treinador do mundo’ (seja lá isso o que for) resultou, ao que ouvi, de votação efectuada pelos pares (e concorrentes) de José Mourinho (claro que é dele que se trata). Não resulta de uma ‘pesquisa de opinião’, da mobilização dos amigos, muito menos da participação em qualquer ‘concurso’ televisivo. Goste-se ou não se goste da personagem (eu confesso que não gosto), uma coisa é verdade: é um dos poucos portugueses que conheço que definiu os seus objectivos, se preparou para eles e trabalhou para os alcançar. E isto não é pouco. Em Portugal, aliás, é imenso! Claro que não inventou a roda, não conseguiu a quadratura do círculo nem descobriu o elixir da vida eterna… É bom no futebol, e o futebol é só chutos n