(Não) apita o comboio

Há uma semana (quase dia por dia) a CP anunciava, secamente, que ia encerrar a ligação norte entre Portugal e Espanha (Porto-Vigo).
Há uma semana (dia por dia), a CP anunciava que, afinal, a ligação (quatro comboios por dia, dois em cada sentido) se mantinha porque a sua congénere espanhola assumia os custos de exploração no seu território.
Chamo aqui o assunto porque aquela ligação é bastante parecida com a nossa Linha do Oeste: não electrificada, com paragens em (quase) todas as estações e apeadeiros, em ‘composições’ velhas de décadas (e, como tal, desconfortáveis, barulhentas e lentas). E com uma frequência semelhante.
Experimentem os leitores ir de Leiria a Lisboa ou a Coimbra pela Linha do Oeste… Eu fiz, há cerca de um ano, a viagem Viana do Castelo-Leiria. É, digamos, interessante: Viana-Porto, Porto-Coimbra, Coimbra-Leiria, com 17 minutos de intervalo no Porto e 1h25 em Coimbra… cinco horas e vinte e três minutos, na que é a ligação mais rápida; as outras duas demoram mais uma hora. Ir a Lisboa implica, na mais rápida das cinco (!) ligações diárias, três horas e cinco minutos.
O que revelam estes números? Revelam uma empresa pública de transporte colectivo aparentemente nada preocupada com o serviço público que é supostamente a sua razão de existir.
Deixemos de lado (apesar de importante) a necessidade de renovação da linha e do ‘material circulante’ para nos concentramos na prestação do serviço: três horas (na melhor das hipóteses) para ir de Leiria a Lisboa? No século XXI? Como quer a CP ter clientes? Como quererá a CP evitar (ou pelo menos diminuir) os prejuízos?
A não ser que o objectivo seja encerrar a linha. Se assim for, a estratégia é perfeita.
(A CP é a empresa pública com mais chefes: um por cada 16.4 funcionários)

(in 'Região de Leiria' - "Da margem do Lis", 15 de Julho)

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