Um mundo perigoso

"Muito do que hoje parece ‘natural’ remonta aos anos 80: a obsessão pela criação de riqueza, o culto da privatização e do sector privado, as crescentes disparidades entre ricos e pobres. E sobretudo a retórica que vem junto: admiração acrítica dos mercados sem entraves, desdém pelo sector público, a ilusão do crescimento ilimitado. Não podemos continuar a viver assim. O pequeno crash de 2008 foi um aviso de que o capitalismo não-regulado é o pior inimigo de si mesmo: mais cedo ou mais tarde há-de ser vítima dos seus próprios excessos e para salvar-se recorrerá novamente ao Estado. Mas se nos limitarmos a apanhar os bocados e continuar como dantes, podermos esperar convulsões maiores nos próximos anos. E porém parecemos incapazes de conceber alternativas."
– Tony Judt (1948-2010), historiador, escritor e professor universitário britânico, in ‘Um tratado sobre os nossos actuais descontentamentos’

Perdoar-me-ão os leitores que metade deste texto seja ‘emprestada’ e a outra metade seja utilizada para justificar a citação. Mas esta semana, pareceu-me apropriado lembrar Tony Judt, um pensador inglês que morreu há precisamente um ano.
A sua principal obra – ‘Pós-Guerra - Uma História da Europa desde 1945’ – já apontava os caminhos que o livro acima citado desenvolve. Leituras que sugiro a quem se interessa por esta ‘coisa’ da Europa.
As convulsões que agitam Londres e algumas outras cidades britânicas, a par das perdas generalizadas nas principais bolsas mundiais (a partir da ‘crise’ nos EUA) fornecem uma renovada actualidade aos “descontentamentos” estudados por Tony Judt.
O mundo (ocidental) está um local perigoso. Tanto mais perigoso quanto parece não termos dirigentes políticos à altura da gravidade das circunstâncias.
(in 'Região de Leiria' - "Da margem do Lis", 12 de Agosto)

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