O copo meio cheio

É habitual, para ilustrar as diferenças de perspectiva, dar o exemplo do copo de água com metade da sua capacidade ocupada: estará meio cheio para um optimista e estará meio vazio para um pessimista.
Veio-me esta comparação à cabeça quando li, esta semana, que os números do desemprego se mantiveram em Maio relativamente a Abril. É verdade que é superior ao mês homólogo do ano anterior, mas parou a descida que se verificava há oito meses consecutivos e o desemprego entre os jovens registou um ligeiro recuo.
Sendo desajustado preparar foguetes para assinalar o ‘feito’, vale a pena conjugar este indicador com os números da nossa balança comercial com o exterior. E aqui há progressos, consistentes, assinaláveis: diminuem as importações e aumentam as exportações, com diversificação dos mercados de destino.
Disse Winston Churchill, depois de uma das primeiras vitórias aliadas na segunda Guerra Mundial, que não estavam perante o início do fim (da guerra) mas sim perante o fim do início.
Assim estamos nós. Não no início do fim da profunda crise portuguesa, mas talvez no fim do princípio: do ponto de vista do copo meio cheio, os sinais que acima refiro indiciam que nos estamos a adaptar a uma nova realidade, controlando drasticamente os consumos e apostando decididamente na produção de bens transaccionáveis (ou substitutos de bens importados).
Isto não diminui a dureza da ‘receita’, mas mostra que há perspectivas de melhoria e que podemos trilhar um caminho mais sustentado, menos ‘eufórico’, mais de acordo com a realidade que somos. O ‘paraíso’ não está ali ao virar da esquina, mas temos motivos para acreditar que existe.

Dirão os que vêem o copo meio vazio que o caso da contratação de enfermeiros em condições indignas e a ‘fuga’ aos cortes salariais detectados em instituições públicas contrariam o copo meio cheio: têm razão, mas eu continuo a ver algo no copo.
(in 'Região de Leiria' - "Da margem do Lis", 6 de Julho)

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