A tragédia grega e nós

O que nos chega por estes dias da realidade grega deve fazer-nos pensar.
Não apenas aos cidadãos comuns, mas especialmente aos detentores de cargos políticos.
A Grécia é o melhor exemplo do que é viver acima das reais possibilidades de um país e de como um sistema político caduco e fechado sobre si próprio pode contribuir para uma situação insustentável.
Saída de um processo eleitoral realizado em circunstâncias dificílimas, a Grécia está praticamente ingovernável. Porque vive à beira da falência e porque, num sinal claro de revolta, os eleitores pulverizaram de tal forma os seus votos que não há outra saída que não seja um nova eleição.
Apesar da frustração mal dissimulada de alguns em Portugal, o exemplo grego não remete, na minha opinião, para a revolta (ou revolução) popular, para distúrbios de rua, para o cenário de destruição que as televisões nos vêm mostrando.
O que o exemplo grego nos mostra é a falência de uma forma de democracia reduzida aos seus aspectos formais: à realização de actos eleitorais periódicos, ao funcionamento dos órgãos legislativos e governativos…
O que o exemplo grego nos mostra é que os cidadãos se sentem cada vez mais afastados da governação, não se sentem representados pelos eleitos, aspiram a outras formas de participação e fiscalização de tudo quanto é a res publica.
Por isso, muito mais que olhar para a ‘rua grega’ e aspirar (ou temer) que o exemplo frutifique por aí, é nossa obrigação alterar a forma como a nossa democracia se organiza e funciona.
É indispensável e urgente melhorar a relação entre eleitores e eleitos, obrigar os eleitos a prestar, efectivamente, contas e despertar os eleitores para um grau de participação muito maior. Começando, como defendo há muito, pela eleição uninominal dos deputados.
Não será em vésperas de eleições que isso se fará com o debate e tranquilidade necessários.

(in 'Região de Leiria' - "Da margem do Lis", 11 de Maio)

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