O PSD tem conserto?

Tenho do PSD tantos anos de ‘matrícula’ quantos o partido tem de vida (menos os meses de Maio a Setembro ou Outubro de 74). O que é, todavia, diferente dos anos de militância, bastantes menos (cerca de 15…) por força do exercício de profissão incompatível.
Isto ressalvado, à laia de ‘declaração de interesses’, digo-vos que me impressiona e preocupa o estado a que chegou a vida interna do PSD.
Sendo certo que sabia não ir encontrar um ‘alfobre de ideias’ (vida de jornalista é um excelente lugar de observação!), a situação que se vive em Leiria é muito pior do que esperava.
Eu sabia que pelo menos desde os idos de 80 do século passado o pagamento massificado de quotas era prática normal de um grupo bem identificado (e que, aliás, o não escondia). Mas julgava (oh ingenuidade!) que a refiliação e a alteração das regras de pagamento da quotização (que ainda devemos a Rui Rio) tinham ajudado a melhorar a situação.
Santa ignorância! A vida interna está pior, muito pior, que nesses longínquos tempos… Aí, apesar de tudo, ainda havia uns laivos de debate, de discussão, ainda se podia falar de uma vida democrática.
Hoje? Hoje a maioria dos ‘militantes’ vai à sede quando ‘deus’ manda, votar em quem ‘deus’ manda! O ‘deus’ que lhes tratou da inscrição e lhes paga as quotas. E de quem, de alguma forma, dependem na ‘vida real’. Vão lá apenas para ‘defender os seus interesses’, na cândida confissão de um deles…
A situação de Leiria, estou certo, não é muito diferente da generalidade do 'país laranja'.
Temos assim uma vida democrática mitigada, assim ao jeito de um faz de conta com que aceitamos enganarmo-nos e, de caminho, enganar o País.
Dir-me-ão que é assim em todos os partidos, que é a vida…
Será, mas (também) é por ser assim que estamos como estamos! Fazemos de conta que vivemos em democracia, porque há eleições e as instituições funcionam. Funcionarão, mas funcionam mal.
Há décadas que será assim, há décadas que nos enganamos, há décadas que ganhamos e perdemos eleições, que se formam governos, que se elegem pessoas para nos representar. E há décadas que a abstenção cresce, que os cidadãos se afastam, que os políticos ganham má fama, que aumenta o descrédito da política.
Seja qual for o líder de serviço, ou se altera esta forma de vida ou o partido (todos os partidos) definhará. E se isso nem será particularmente grave (se deixar de servir, cria-se outro ao lado), já é grave que a democracia não cresça, não se desenvolva, que a política (enquanto gestora da res publica) não atraia mais pessoas e melhores pessoas.
Se me perguntarem como se faz, direi que não sei. Ou por outra. Sei uma coisa: é essencial e urgente mudar a forma de exercício dos direitos e deveres de militante, a começar pelo pagamento da quotização. Há que garantir que cada um paga a sua quota!
Não chega? Provavelmente não, mas é um começo. Continuar a aceitar que qualquer um possa chegar a um terminal multibanco e pagar resmas de quotas é que não!
Em jeito de aparte: Há uns anos largos, contava-se que um conhecido médico teria aproveitado o seu consultório para, junto de um casal idoso, fazer a propaganda do seu candidato contra o principal adversário que, ironia máxima, era o filho do dito cujo casal… E se, hoje, cotejássemos a nossa relação de militantes com alguns ficheiros clínicos?

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