Ultrapassar a fronteira

Entre o Homo neanderthalensis e o Homo sapiens;
Entre o ‘mundo cristão’ e o ‘mundo muçulmano’;
Entre o “norte senhorial” e o “sul concelhio” (José Mattoso, na sessão inaugural do ‘1º Congresso para o Desenvolvimento de Leiria e Alta Estremadura – 17 de Maio de 1991);
Entre as universidades de Coimbra e de Lisboa;
Entre o xisto e o granito e as areias e calcários;
Entre as serras e o mar.
É nesta ‘fronteira’ que vivemos.
Com outras ‘fronteiras’ criadas entretanto, fruto da dinâmica que, principalmente a partir dos anos 60 do Século passado, foi tudo aquilo que fez a Leiria que somos hoje.
Ao esvaziamento referido por José Mattoso na intervenção acima referida (1º Congresso para o Desenvolvimento de Leiria e Alta Estremadura – Que futuro? Textos) juntou-se o enorme surto migratório, que levou milhares de Leirienses, em busca de melhores vidas, para outros países e trouxe milhares de outros portugueses para aproveitar as oportunidades entretanto criadas pela rápida industrialização e terciarização.
A perda de identidade (fosse ela qual fosse) que a emigração causou foi compensada pela diversidade proporcionada pela imigração subsequente. Mas, até agora, isso não permitiu a sedimentação de uma (nova) identidade e assim nos ‘arrastamos’, lamentando e criticando a nossa ‘má sorte’.
Sim, somos uma região dinâmica (como gostamos muito de gabar)! Sim, temos uma razoável qualidade de vida. Sim, temos beneficiado de um nível de vida superior à média. Sim, estamos ‘perto de tudo’!
Sim, tudo isto é verdade! Mas também é verdade que crescemos com base num individualismo quiçá atípico, e que, se é uma das grandes ‘vantagens competitivas’, é um dos nossos principais bloqueios: andamos tão preocupados connosco, com o nosso ‘eu’, que nos esquecemos que há vida para além das paredes do nosso pequeno mundo.
Aqui há (já) muitas décadas, no meio das futeboladas, havia um amigo que se destacava pela ‘táctica’: invariavelmente, gritava “vá lá um de nós, que eu fico aqui!”
Apesar da nossa comprovada capacidade de iniciativa e de assumir riscos, de há uns tempos para cá alinhamos naquela táctica: é para fazer? cabe aos outros!
É esta a fronteira que devemos ultrapassar: o ‘desafio para Leiria’ é transformar a diversidade em vantagem, o individualismo em força colectiva, o queixume e a lamúria em capacidade de iniciativa.
(in 'Diário de Leiria' - "Um desafio para Leiria", 18 de Novembro)

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