Hoje, há 43 anos…

Hoje, há 43 anos, estava em Fátima.
O puto que eu era guiava um grupo de peregrinos franceses, que se deslocaram a Fátima para ver o Papa Paulo VI, nas suas deslocações para (e de) o local de pernoita (Fátima-Praia do Pedrógão-Fátima).
O puto que eu era esteve em Fátima e não viu o Papa. Ou melhor… viu-o através da televisão, em casa da Avó Teresa, que hoje recordo com imensa saudade.
A minha Avó Teresa foi uma mulher extraordinária, um exemplo permanente de dádiva e entrega aos outros, de compreensão e tolerância. Muito cedo viúva, criou três filhos à custa de muitíssimos sacrifícios e de uma fé ímpar, que não precisava de manifestações exteriores para se revelar.
A minha Avó Teresa foi a pessoa mais serena que conheci até hoje. Não me recordo de uma única vez em que a tenha ouvido elevar a voz, que a tenha visto irritada. Sempre a mesma tranquilidade, mesmo quando a vida lhe era 'madrasta' (e foi-o muitas vezes). Na sua aparente fragilidade física, foi a pessoa mais forte que conheci. Essa força interior, acredito, era a responsável por aquela insuperável serenidade.
A sua fé levou-a para Fátima, onde viveu muitos anos e creio que gostaria de ter vivido muitos mais, quiçá até ao fim da vida. Ela quis, mas a vida trouxe-lhe ainda outros escolhos e assim não foi.
Hoje, ao ver, novamente pela televisão, o terceiro Papa em Fátima pergunto-me o que sentiria ela, se ainda estivesse connosco. E penso que estaria como sempre: sorrindo, com os olhos postos no ecrã e naquela figura vestida de branco, no enlevo de uma profunda fé.
Porque ela nunca viu o Papa ao vivo na ‘sua’ Fátima… Ao contrário deste neto, homem de pouquíssima fé na ‘igreja dos homens’, que teve o privilégio, porventura imerecido, de acompanhar lá duas das três visitas de João Paulo II (e que assistiu, vejam só…, ‘de camarote’ ao atentado falhado de Juan Krohn).
Fátima é para mim O mistério da fé. Aquilo a que ali assisti misturado na multidão, muito para além das imagens que fazem a generalidade das reportagens fotográficas ou televisivas, interpela verdadeiramente! O que está para além dos rostos, das lágrimas (imensas), dos sorrisos (muitos), dos cânticos, dos sacrifícios pessoais, dos lenços no adeus?
Enquanto durou a guerra colonial, a explicação era ‘fácil’: pedir e/ou agradecer a vida dos milhares de jovens chamados a um conflito distante e inexplicável. Mas a guerra já acabou há mais de 30 anos… as pessoas são outras e não! não são apenas ‘rústicos’ das profundezas do Portugal profundo.
É, de novo, a imagem da Avó Teresa que se me impõe: quem procura Fátima, na alegria ou na tristeza, vai em busca de (alguma) paz interior, a paz em que a Avó Teresa viveu. Foi também para ela que Bento XVI falou há pouco, quando referiu as “alegrias e esperanças e também os problemas e as dores de cada um” dos peregrinos de Fátima.

(A minha Avó Teresa teria completado 103 anos no passado dia 10)

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