In vino veritas

“Só se bebe branco quando não há vinho”
(dito jocoso de alguns apreciadores de tinto)

Pela primeira vez (desde 1975), amanhã vou beber branco à mesa.
Pela primeira vez, não há, na mesa, nenhum tinto que me cative, que me desperte atenção, que, simplesmente, mereça uma experiência.
Portanto, e como não ir à mesa é impensável, vou escolher branco.
Sei (porque têm estado em exposição por estes dias) que vai haver cinco tintos disponíveis, mas desde o tipo de garrafa ao rótulo, passando pela gargantilha, rolha e contra-rótulo, nada daquilo me agrada.
Diz-se que a primeira prova é feita com os olhos e, logo aí, passo! Garrafas desadequadas, mau grafismo e cores berrantes e agressivas nos rótulos, contra-rótulos palavrosos mas vazios de informação útil… Há de tudo.
E as regiões? Um é de uma região estrangeira (não confundir com legião estrangeira sff) que nem sabia que produzia vinho. Outro de uma zona mais conhecida por outras iguarias (secas, se me faço entender). Outro ainda de uma região que tem alguma tradição, mas noutras latitudes (e longitudes, já agora). Restam (restariam) dois, de zonas com antiguidade e tradição, mas nem estes me atraem: um é-me absolutamente desconhecido e, lá está, o conjunto exterior não é apelativo; do outro já ouvi falar e antes não tivesse ouvido…
E o cheiro? Diz-me quem arriscou a prova (cega, vejam bem!) que o cheiro afasta qualquer um! Azedo, sulfuroso, fruta demasiado madura (a indiciar podridão), madeira estragada, rolha com mofo… Uma catástrofe (várias catástrofes…)!
No meio disto tudo, confesso, ainda encararia a hipótese de provar o estrangeiro (e tal… conhecer coisas novas), mas é feito a partir de três castas que, simplesmente, não combinam… aquilo só em copos separados.
De modo que… não havendo vinho… vou beber branco. É um risco, eu sei, mas tem menos efeitos secundários.
Mas se o gajo diz que não há vinho, vai à mesa porquê? – perguntam vocês, com alguma lógica.
Vou porque é um dever a que ninguém deve faltar. Fui convocado, vou!
E porque, apesar dos vinhos apresentados serem das coisas mais indigentes que me foram apresentadas em todos estes anos, há branco.

In vino veritas.

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